Nem sempre a vida segue o curso que se deseja, que se espera. Assim foi com Adriana. Depois da morte de seus pais, ela, ainda bem moça, deixou a cidade em que nascera para morar na fazenda, com os tios que mal conhecia. Moraria na casa que havia sido construída por seu bisavô, há muito tempo.
Era uma casa muito antiga e a maior parte de seus móveis que ali estava há muito tempo eram peças pesadas e escuras. Seus tios eram pessoas simples, acostumados com a vida que sempre viveram, desconfiados com tudo que pudesse alterar a rotina que lhes dava segurança.
A chegada de Adriana representou para eles certo transtorno, mais do que as pessoas saberiam dizer. Onde ficaria instalada a menina? Como não havia um cômodo mais apropriado, deram-lhe um quarto pequeno, que ficava no sótão. Nem o tamanho reduzido, nem o cheiro de mofo incomodaram Adriana. O que lhe entristecia naquele quartinho abafado era apenas o fato de não ter janelas.
Não se podia ver o sol, nem o céu, nem as árvores do quintal ou as flores do jardim. A luz limitava-se a entrar timidamente pela porta. A falta de claridade naquele quartinho parecia encher ainda mais de tristeza o coração dolorido da moça. Até que um dia, depois de muito ter chorado em silêncio, Adriana decidiu voltar a sorrir, pediu que lhe trouxessem da cidade uma telha de vidro. Seus tios ficaram desconfiados, mas acabaram cedendo.
Daí, um milagre aconteceu. Antes, tão sombrio por ser sem janelas o quarto de Adriana, este passou a ser a peça mais alegre da fazenda, a telha de vidro trouxe a proximidade de seus tios que antes eram isolados. Agora curiosos com tamanha mudança, passaram a apreciar juntos, a beleza da criação. O quarto agora estava tão claro que, ao meio-dia, aparecia uma renda de arabesco de sol nos ladrilhos vermelhos, que só a partir de então conheceram a luz do dia.
A lua branda e fria também se mostrava, às vezes, pelo clarão da telha milagrosa. E algumas estrelas audaciosas arriscaram surgir no espelho onde a moça se penteava. O quartinho que era feio e sem vida, fazendo os dias de Adriana cinzentos, frios, sem luar e sem clarão agora estava tão diferente.
Passou a ser cheio de claridade, luzes e brilho e vida. Adriana voltou a sorrir. Toda essa mudança só porque um dia ela, insatisfeita com a própria tristeza, decidiu colocar uma telha de vidro no telhado daquela casa antiga, trazendo para dentro da sua vida a luz e a alegria que faltavam.
(autor desconhecido - adaptado)
PARA REFLETIR
A vida nos proporciona surpresas que muitas vezes trazem fronteiras e começa muitas vezes dentro de nós.
Nos fazem parecer que estamos em um palco a desempenhar vários personagens e partimos para as fugas internas e tanto nós como outras pessoas a nossa volta vivem de aparências, de circunstâncias, representando muitas vezes, uma falsa verdade.
O problema é quando ao representar a consciência trás a realidade dos fatos, então não adianta fugir ou se iludir, se esconder num quarto escuro e viver em um mundo irreal.
É preciso trocar o telhado escuro pela claridade da luz. É preciso não permitir que a dor, as perdas, as mudanças forçadas trazidas pela vida venham nos fazer desistir de encarar o mundo real, mas é preciso enxergar o que está por detrás da escuridão, deixar a luz entrar, brilhar e transformar tudo ao nosso redor.
Não há mudanças externas, sem que internamente queiramos viver coisas novas!
Ivone Almeida Santos