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Leitura Diária - JÓ
Leitura Diária - JÓ

       

 


(VERSÃO: BÍBLIA VIVA)

 

PLANO DE LEITURA DA BÍBLIA 

FEVEREIRO

 

 Gênesis

  Marcos

Ester

(capítulos 01 ao 29)

Lucas

Êxodo


 

 

CAPITULO 1

1 - TERRA DE UZ viveu um homem chamado Jó. Ele era justo, pois obedecia a Deus e se esforçava para nunca praticar o mal.

2 - Jó tinha uma família bem grande, sete filhos e três filhas.

3 - Além disso, era muito rico! Era o homem mais rico e poderoso daquela terra, pois tinha sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentas mulas e um grande número de empregados e escravos.

4 - Quando um dos filhos de Jó fazia aniversário, todos os irmãos e irmãs se reuniam para uma grande festa, com bastante comida e bebida.

5 - Às vezes essas festas duravam vários dias. Quando terminavam, Jó reunia todos os seus filhos e oferecia sacrifícios para cada um, cedo de manhã, pedindo o perdão de Deus para eles. A razão que Jó tinha para fazer isso era a seguinte: "É possível que meus filhos tenham pecado e ofendido a Deus em seus pensamentos". Por isso, Jó repetia esses sacrifícios depois de cada festa.

6 - Numa certa ocasião, quando os anjos se reuniram na presença do Senhor, Satanás, o Acusador, estava entre eles.

7 - E o Senhor perguntou a ele: "De onde você vem?” Satanás respondeu: "Estive rodeando a terra, observando os homens”.

8 - "Você observou bem a meu servo Jó?” Perguntou o Senhor. "Não há homem igual a ele em toda a terra, tão sincero e justo, obediente a Deus e cuidadoso para não cometer pecado!"

9 - "Jó tem razão para isso”, respondeu Satanás.

10 - Ó Senhor deu a ele do bom e do melhor, protegendo Jó e sua família de todos os males e tristezas e fazendo dele um homem riquíssimo! Não é sem razão que Jó obedece!

11 - Experimente, porém, tirar todas as riquezas e os bens que o Senhor deu a Jó; ele vai se revoltar e dizer coisas horríveis contra o Senhor!"

12 - E o Senhor respondeu a Satanás: "Você pode destruir tudo o que Eu dei a Jó, mas não toque no corpo e na saúde dele”. Assim, Satanás partiu e entrou em a­ção.

13 - Pouco tempo depois, quando os ir­mãos e irmãs estavam todos reunidos, co­memorando na casa do filho mais velho, começou a desgraça de Jó.

14 e 15 - Um empregado chegou correndo à casa de Jó e disse: "Estávamos na fazen­da, arando a terra com os bois, enquanto as mulas pastavam no campo. De repen­te, um bando de ladrões sabeus atacou e matou os empregados e roubou o seu ga­do. Só eu escapei e vim correndo trazer a notícia." ­

16 - O primeiro empregado ainda não tinha terminado de falar quando chegou outro, trazendo más notícias. "Estáva­mos tomando conta das ovelhas e, de re­pente, um fogo, vindo do céu, caiu em ci­ma de nós e das ovelhas! Todos morre­ram! Sô eu consegui escapar e vim corren­do trazer a notícia."

17 - Enquanto o segundo ainda estava fa­lando, chegou correndo um terceiro em­pregado e anunciou: "Três grupos de bandidos caldeus atacaram os empregados que tomavam conta dos camelos! Roubaram os animais e mataram todos, menos eu, que consegui escapar para tra­zer as notícias!"

18 - Mal esse homem tinha terminado de falar, chegou outro e disse: "Seus filhos e filhas estavam festejando na casa do ir­mão mais velho. 19 - De repente, surgiu uma terrível ventania vinda do deserto; a ventania derrubou o telhado e assim to­dos morreram: só eu escapei com vida e vim correndo para dar a notícia!"

20 - Então Jó se levantou, cheio de triste­za, rasgou suas roupas e raspou a cabeça, em sinal de profundo sofrimento. Depois, ajoelhou-se, colocou o rosto junto ao chão e adorou a Deus, dizendo:

21 - "Quan­do cheguei a este mundo estava nu e nada possuía. É assim que vou partir. O Se­nhor me deu tudo quanto eu tinha e agora tomou de volta. Glória ao Senhor! Bendi­to seja Ele!"

22 - Mesmo no meio de tanta desgraça, Jó não pecou nem disse que Deus era cul­pado do seu sofrimento.

 


CAPITULO 2

1 - NUMA CERTA OCASIÃO, quando    os anjos reuniram na presença    do Senhor, Satanás estava entre eles, mais uma vez.

2 - De onde você vem?" perguntou o Senhor a Satanás. "Estive rodeando a terra e observando os homens" , foi a resposta.

3 - "Então você deve ter observado o meu servo Jó," disse o Senhor. "Deve ter percebido que ele é mesmo o homem mais justo de toda a terra, sincero e obediente a Mim, cuidadoso para não cometer peca­do algum. Jó ainda Me ama de coração, apesar de Eu ter permitido que você tiras­se tudo que ele possuía, inclusive os fi­lhos."

4 - Satanás respondeu ao Senhor: "Cada um cuida de sua própria pele! Qualquer um ficaria satisfeito de perder tudo o que tem se em troca puder conservar sua vida.

5 - Mas se o Senhor estender a mão e tirar a saúde de Jó, ele acabará negando e amal­diçoando a Deus abertamente!"

6 - E o Senhor disse a Satanás: "Está bem! Faça o que quiser com ele mas não tire a sua vida!"

7 - Então Satanás partiu da presença do Senhor e lançou uma terrível doença so­bre Jó. O corpo de Jó ficou inteiramente coberto de feridas abertas e cheias de pus, dos pés à cabeça.

8 - Sofrendo muito, Jó se sentou sobre um monte de cinzas e, com um caco de barro, começou a coçar suas feridas.

9 - A esposa de Jó, revoltada, exclamou: "Você ainda vai tentar ser muito religio­so, mesmo depois de tudo o que Deus nos fez? O melhor que você tem a fazer é amaldiçoar a Deus e morrer!"

10 - Mas Jó respondeu: "O que você está falando é loucura completa. Já recebe­mos tantas coisas boas de Deus, porque não receber também o sofrimento e a dor?" E mesmo diante de mais este sofri­mento terrível Jó não disse uma palavra má contra Deus.

11 - Três amigos de Jó ouviram sobre o que tinha acontecido a ele e planejaram fazer-lhe uma visita, para dar um pouco de consolo e ânimo. Os nomes desses três amigos eram Elifaz, da cidade de Temã, Bildade, da cidade de Suá e Zofar, da ci­dade de Naama.

12 - Quando os três viram Jó, de longe, não reconheceram seu ami­go, de tão mudado que estava. Cheios de tristeza, rasgaram suas roupas e, choran­do bem alto, jogaram poeira para cima.

13 - Durante os sete dias seguintes, os três se sentaram junto com Jó, sobre a cinza, sem dizer uma única palavra, porque vi­ram que a dor de Já era grande demais e falar não ajudaria em nada.

 


CAPITULO 3

1 - FINALMENTE, JÓ COMEÇOU a falar e amaldiçoou o dia em que ti­nha nascido.

2 e 3 - "Maldito seja o dia em que eu nasci! Maldita seja a noite em que eu vim ao mundo!" disse ele.

4 - "Espero que esse dia seja transformado em trevas profundas e até Deus, lá no céu, se esqueça dele e não deixe o sol brilhar”.

5 - “Espero que ele fique para sempre encoberto por nuvens escu­ras, preso para sempre em profunda escu­ridão”.

6 - “Que aquela noite, seja escura e fria! Tomara que ela não seja contada en­tre os dias do ano!”

7 - “Mas seja para sempre fria e triste! Tomara que ninguém mais nasça naquela noite!”

8 - “Roguem pragas e maldições sobre ela às pessoas que conhe­cem palavras secretas e misteriosas para amaldiçoar.

9 - Que todas as estrelas se apaguem nessa noite! Tomara que ela es­pere a luz da manhã, mas o sol não apa­reça no horizonte!

10 - “Maldita seja essa noite que não me impediu de nascer e me obrigou a passar por todo este sofrimen­to!”

11 e 12 - "Quem me dera morrer antes de ter nascido! Seria tão bom se eu tivesse mor­rido pelo menos na hora em que nasci! Por que minha mãe me colocou em seu colo? Por que ela me deu de mamar?

13 - Se eu tivesse morrido assim que nasci estaria feliz agora, descansando em paz,

14 - junto com os reis e ministros que prepararam grandes e ricas sepulturas para si.

15 - Quem sabe estaria lado a lado com ri­cos príncipes que viviam em belos palácios cheios de prata e ouro!

16 - Ah, se eu tivesse morrido enquanto ainda estava no ventre de minha mãe, sem nunca ter visto a luz do sol!

17 - Porque depois da morte os perversos já não podem mais praticar suas maldades; quando morrem, os que viveram sofrendo podem descan­sar.

18 - Depois da morte, os presos já não escutam as ameaças dos guardas da pri­são e ficam em plena liberdade.

19 - Depois da morte, todos são iguais, ricos e pobres. O escravo finalmente fica livre de seu do­no.

20 - Ah, por que deixar os infelizes sa­berem o que é a vida? Por que deixar os sofredores viverem,

21 - quando eles dese­jam tanto a morte? Por que ela não vem? Para os desesperados a morte vale mais que um tesouro!

22 - Que alegria para eles encontrar alívio e descanso numa sepultu­ra!

23 - Por que deixar viver um homem que só terá sofrimento, uma vida que Deus cercou de tristeza por todos os lados?

24 - De tanto chorar e gemer, nem consigo comer! Minhas lágrimas correm como uma fonte!

25 - A desgraça que eu tanto te­mia acabou caindo sobre mim!

26 - Não te­nho paz, nem alívio de meus sofrimentos; só dor e tristeza.

 


CAPITULO 4

1 - QUANDO JÓ ACABOU de falar, Elifaz, natural de Temã, respondeu:

2 - "Será muito difícil para você escutar algumas palavras? Há algumas coisas que eu não posso deixar de lhe dizer.

3 - No pas­sado, você ensinou pessoas que estavam sofrendo a confiar em Deus.

4 - Você ajudou os fracos, caídos e desesperados a tentar mais uma vez, a começar de novo.

5 - No entanto, agora que chegou a sua vez de passar pelos mesmos sofrimentos, você se desespera e perde a vontade de viver!

6 - "Onde está a sua confiança em Deus? Você que vivia uma vida tão santa e justa, onde foi parar sua esperança?

7 - Pense um pouco, homem! Por acaso Deus já des­truiu um justo? Ou castigou sem motivo o inocente?

8 - Não! Na minha opinião, os pecadores rebeldes que plantam sementes de maldade por onde passam, esses é que colhem de volta, como castigo de Deus, a maldade que fizeram.

9 - Sim, Deus destrói esses homens na sua ira, da mesma ma­neira que o calor do sol faz murchar a er­va.

10 - Mesmo que eles sejam fortes como leões ferozes, serão destruídos; perderão sua voz poderosa e sua força.

11 - Morrerão de fome, como um leão velho que não po­de mais conseguir alimento! Os filhos desses homens serão espalhados, viverão perdidos no mundo.

12 - Uma grande verdade foi revelada a mim, um grande segredo que eu mal con­segui ouvir quando me foi contado.

13 - Certa noite, quando todos dormiam, eu tive uma visão que me encheu de pavor.

14 e 15 - De repente, comecei a tremer e senti muito medo; meu corpo inteiro se agitou' quando um espírito apareceu diante de mim. Fiquei arrepiado de medo!

16 – Eu percebi que o espírito estava à minha frente, mas não era possível ver sua for­ma; parecia uma sombra; um vulto. En­tão, houve um profundo silêncio e depois uma voz falou:

17 - "Por acaso o homem é justo aos olhos de Deus? Por acaso o homem é ino­cente aos olhos do seu Criador?"

18 - "Deus não pode confiar nem em seus mensageiros, pois até alguns anjos pecaram!

19 - Que dizer então do homem feito do pó da terra, que Deus pode destruir com a mesma facilidade com que o homem esmaga um inseto?

20 - A vida hu­mana é tão curta! O homem nasce pela manhã e morre ao pôr-do-sol! Morre para sempre e ninguém se importa com isso!

21 - A vida do homem é como uma vela; com um sopro ela se apaga e ele morre sem ao menos ter descoberto a verdadeira razão da vida!

 


CAPITULO 5

1 - "GRITE POR SOCORRO! Ninguém responderá seu pedido de ajuda. Peça ajuda aos anjos, mas será tudo em vão.

2 - Isso porque o pecador é destruído pela sua própria ira, pela ansiedade em resolver seus problemas.

3 - Eu observei a vida do homem que se revolta contra Deus; a princípio tudo vai bem, mas logo vem a desgraça e o sofrimento.

4 - Os filhos do homem rebelde sofrem por causa do pecado do pai; são desprezados pela so­ciedade e não recebem ajuda de ninguém.

5 - O homem rebelde fica sem o que plan­tou, porque os ladrões roubam tudo; tudo que ele ajuntar acabará no bolso de gente desonesta.

6 - Todo esse sofrimento não acontece por acaso; é o resultado das ações do homem revoltado contra Deus.

7 - E esse é o fim da vida humana, tristeza e frustração; isso é tão natural quanto às faíscas de uma fogueira voarem para ci­ma.

8 - Vou lhe dar um conselho: procure a Deus e confesse a Ele os seus pecados,

9 - pois Ele, faz maravilhas, milagres que nem se pode explicar.

10 - Ele manda a chu­va cair sobre a terra e regar os campos,

11 - para dar alimento e alegria aos pobres e necessitados.

12 - Ele acaba com os planos de homens perversos e não deixa que eles façam as maldades que planejam.

13 - Os perversos acabam sendo destruídos pela sua própria maldade; seus planos violentos são corta­dos por Deus.

14 - Em pleno dia eles andarão aos tropeções, com os cegos; a luz do dia será tão escura quanto à meia-noite!

15 - Deus salva os órfãos e necessitados dos maus e poderosos.

16 - Sim, há espe­rança para o pobre porque os perversos serão destruídos pela sua própria malda­de.

17 - "Feliz é o homem a quem Deus corri­ge! Por isso, Jó, não fique reclamando porque o Grande Deus lhe deu esse casti­go.

18 - Ele mesmo vai curar a ferida que fez em você.

19 - Ele estará sempre ao seu lado, para o livrar de todos os problemas que surgirem.

20 - "Se houver fome na terra, Ele lhe dará comida. Ele lhe dará proteção con­tra os perigos da guerra.

21 - Ele cuidará para que você não seja destruído por palavras mentirosas. Assim, mesmo em meio a grandes sofrimen­tos, você viverá tranqüilo.

22 - "Sim, você rirá da guerra e da fome e não terá medo dos animais. ferozes.

23 - Deus fará com que as pedras do campo, sejam úteis para você e os animais do campo serão seus amigos.

24 - Você pode ter certeza de que a paz guardará sua casa e você não terá pre­juízo em nenhum de seus negócios.

25 - Sua família se tornará muito grande e poderosa na terra, com tanta gente que será impossível contar.

26 - A morte chegará na hora certa, quando você já ti­ver vivido uma vida longa e feliz, como o trigo que se colhe quando está maduro.

27 - Eu venho observando a vida por muito tempo e sei que o que lhe disse é a pura verdade. Para seu próprio bem, ouça e aproveite o meu conselho.

 


CAPITULO 6

 1 - E JÓ RESPONDEU assim a seu ami­go Elifaz:

2 e 3 - Ah, se alguém pudesse pesar numa balança o meu lamento e o meu sofrimen­to, você veriam que a minha dor é mais pesada que toda a areia das praias deste mundo. Por isso é que falei depressa de­mais, reclamando.

4 - Sim, pois o Grande Deus me castigou com as suas flechas e a minha alma está envenenada por causa delas. Sim, Deus me castigou com toda espécie de sofrimento e dor.

5 - Não estou reclamando à toa: pense bem, por acaso o jumento ou o boi reclama quando tem bastante capim para comer? Claro que não!

6 - Por acaso se comem sem sal as co­midas que não tem gosto, a clara do ovo por exemplo?

7 - É isso que aconteceu comi­go; o que antes eu desprezava, agora sou obrigado a comer, por mais desagradável que seja.

8 - Quem dera que Deus ouvisse meus pedidos e atendesse o meu desejo!

9 - Quem dera que Ele me esmagasse com sua mão em vez de me deixar sofrendo tanto!

10 - Assim, mesmo sofrendo e morrendo, eu ainda teria um consolo; estou inocente diante do Santo Deus pois não desobedeci a sua palavra.

11 - Por que Ele demora tan­to em me tirar a vida? Eu já não tenho mais forças para continuar vivendo! Por que demorar tanto se o meu fim é certo?

12 - Será que Deus pensa que sou feito de pedra, ou de bronze, que não sinto dor e não tenho emoções?

13 - Não, eu morrerei sem receber ajuda e não tenho mais nada que possa me valer neste sofrimento!

14 - O amigo deve mostrar compreensão e ajuda na hora da dificuldade mas vocês estão me tratando como eu tivesse negado a Deus e me revoltado contra Ele.

15 - Sim, vocês que são como irmãos para mim, acabaram me tratando falsamente. Vocês foram como os riachos que correm mon­tanha abaixo, até o fundo dos vales.

16 a 18 - Quando a neve e o gelo do inverno der­retem, eles correm cheios e rápidos mas quando vem o calor do verão eles desapa­recem. As caravanas saem de seu rumo para procurar água, mas nada encontram, e os comerciantes acabam morrendo de sede.

19 a 21 - As caravanas de comerciantes vindos de Temã e Sabá procuram esses riachos mas acabam sendo enganadas pois não encontram água para beber. Vocês foram como esses riachos para mim; eu esperava encontrar ajuda mas vocês se afastaram, espantados com a minha des­graça.

22 - Por que? Por acaso eu pedi algu­ma coisa, algum consolo ou alguma aju­da?

23 - Por acaso pedi que vocês me livras­sem desse sofrimento que Deus me deu?

24 - Tudo que eu quero é uma explicação pa­ra todo esse sofrimento; eu me calarei se alguém me explicar onde foi que desobe­deci a Deus!

25 e 26 - Suas palavras são muito bonitas e poderiam me convencer se eu estivesse er­rado; mas, quanto a mim, suas palavras não valeram nada! De que adianta vocês me condenarem por um lamento que eu soltei numa hora de profundo desespero?

27 - Isso é tão feio quanto vender um órfão como escravo ou trair o melhor amigo por um punhado de dinheiro.

28 - Olhem para mim, por favor! Eu não seria capaz de mentir para vocês, meus amigos!

29 - Não me considerem culpado tão de­pressa! Julguem o meu caso mais uma vez e sejam bem sinceros; vocês verão que não mereço este sofrimento.

30 - Ou vocês pensam que já não sei mais ver o que é certo e o que é errado? Eu seria o primei­ro a admitir o meu erro se tivesse cometi­do algum pecado!

 


CAPITULO 7

1 - AH, ESSA NOSSA VIDA é longa e cheia de canseira, como a vida de um escravo!

2 - Como o lavrador espera ansio­so por um descanso, à sombra de uma árvore; como o empregado espera ansioso o dia do pagamento,

3 - eu esperava ter uma velhice calma e tranqüila mas recebi meses e meses de sofrimento, e longas noites cheias de dor e aflição.

4 - Quando vou me deitar, penso: 'Quem dera que já fosse de manhã!' mas a noite é comprida e eu me viro de um lado para outro na ca­ma, sem poder dormir.

5 - "Minha pele está coberta de vermes e de uma casca escura. Feridas antigas vol­tam a se abrir e ficam cheias de pus.

6 - Mi­nha vida se acaba rapidamente, veloz co­mo o vento. Meus dias são vazios e sem esperança.

7 - Minha vida é breve como um sopro e eu nunca mais voltarei a ser feliz.

8 - Em breve, meus amigos não me verão mais. O Senhor Deus não me verá mais no reino dos vivos.

9 - Como a neblina que desaparece com o calor, os que vão para o reino dos mortos não voltam mais a este mundo;

10 - deixam para trás sua família e a casa onde viviam, para nunca mais vol­tar.

11 - Por tudo isso tenho de lamentar, falar da tristeza do meu coração e da aflição da minha alma.

12 - Ó Deus, por acaso sou eu um mons­tro, furioso como o mar, para que me persiga e vigie assim sem parar?

13 e 14 - Quando vou dormir penso que o sono me fará esquecer a dor e o sofrimento, mas, o Senhor me assusta com pesadelos horríveis. 15 - Ah, eu prefiro morrer estran­gulado a viver sofrendo desse jeito!

16 – Já estou cansado da minha vida; é melhor morrer de uma vez. Deixe-me ficar só, ao menos nestes últimos dias de vida.

17 - Afi­nal de contas, o que é o homem para que se interesse tanto por ele e vigie cada um de seus passos?

18 - Por que o Senhor colo­ca o homem à prova a cada novo dia, co­mo um juiz severo?

19 - Até quando vai me vigiar? Quando me dará tempo para fazer as coisas simples da vida sem ser vigiado?

20 - "Será que o meu pecado incomoda tanto, ó Deus-Vigia, Observador da hu­manidade? Por que me escolheu para al­vo das suas flechas? Por que fez da minha vida um fardo tão pesado?

21 - Por que não perdoa o meu pecado e não tira das mi­nhas costas o peso da minha desobediên­cia? Em breve eu me deitarei para dormir o sono eterno; o Senhor procurará entre os vivos mas não me encontrará.

 


CAPITULO 8

1 - ENTÃO, BILDADE, o suíta respondeu a Jó:

2 - Até quando você vai continuar fa­lando desse jeito, Jó? Soprando palavras furiosas como um vento forte?

3 - Você acha que Deus, o Grande Deus, seria ca­paz de cometer uma injustiça e torcer o que é certo?

4 - Se os seus filhos sofreram tudo isso, foi porque desobedeceram a Deus e sofreram as conseqüências de seu pecado.

5 - Mas agora, se você procurar a Deus e pedir ao Senhor misericórdia,

6 - se você for sincero e justo, Ele não demo­rará em lhe dar ajuda e devolver um lar justo e feliz.

7 - E você verá que o que tinha antes era pouco, comparado com o que Deus lhe dará.

8 - Lembre-se do que aconteceu no passa­do, a outras gerações, a seus antigos pa­rentes!

9 - A nossa vida é muito curta, como uma sombra e a nossa experiência muito pequena.

10 - Por isso, aprenda com os ho­mens do passado; eles lhe ensinarão com sabedoria estas grandes verdades:

11 a 13 - Os homens que se esquecem de Deus são co­mo as varas que crescem à beira dos rios e lagos. Quando acaba a água, e a lama on­de vivem endurece, elas murcham e mor­rem depressa, antes mesmo de serem co­lhidas pelo homem. Os planos de quem se esquece de Deus falharão todos!

14 - O ho­mem sem Deus não tem segurança; sua vi­da se sustenta numa teia de aranha, muito frágil.

15 - Ele procura se apoiar em suas ri­quezas e na proteção de sua casa, mas, tu­do isso virá abaixo e será destruí do junto com ele.

16 - No começo de sua vida ele cresce depressa como uma planta nova e se espalha pelo jardim;

17 - suas raízes se es­palham por toda parte, entre os montões de pedras e os muros altos.

18 - Mas, quan­do Deus castiga esse homem, ele desapare­ce como uma planta que foi arrancada e ninguém sente falta dele.

19 - Esse é o triste resultado da vida de quem se esquece de Deus! E quando um deles desaparece, sur­gem outros para tomar seu lugar.

20 - Mas veja bem! Deus não abandonará o homem justo e sincero da mesma ma­neira que nunca ajudará o pecador rebel­de.

21 - Ele encherá ainda a sua vida de ri­sos e exclamações alegres.

22 - Quem tem ódio de você será envergonhado e os per­versos serão destruídos!

 


CAPITULO 9

1 - E JÓ RESPONDEU a Bildade dizen­do:

2 - "Eu sei disso muito bem, não é novi­dade. Eu sei que é impossível para o ho­mem ser considerado inocente perante Deus.

3 - Se Deus quisesse pedir contas ao homem, seria possível responder sequer uma das mil perguntas que Ele fizesse?

4 - Deus é muito sábio e poderoso; ninguém é capaz de desobedecer a Ele e ser feliz nesta vida.

5 - "Na sua ira, Ele é capaz de mover e destruir montanhas tão depressa que nem se pode ver.

6 - Ele pode sacudir os alicer­ces da terra e tirar, este mundo de seu lu­gar.

7 - Se Ele mandar, o sol não nasce e as estrelas não brilham.

8 - Sozinho, Ele for­mou os céus! Ele anda sobre as grandes ondas do oceano.

9 - Ele criou as grandes estrelas e os grupos de estrelas como a Ur­sa Maior, o Órion e o Sete-Estrelo, além dos astros que brilham nos céus do Sul.

10 - "Ele realiza grandes milagres, tantos que é impossível contar e ver! 11 - Ele está sempre perto de mim mas, não o consigo ver; vai sempre adiante em meu caminho mas não o posso ver.

12 – Quando Ele deci­de tirar a vida de alguém, quem é capaz de impedir, quem pode dizer 'Não"!?

13 - "Deus não deixa de cumprir o casti­go que sua ira exige. Ele esmaga os príncipes de nações poderosas, como o Egito.

14 - Quem SOU eu, pois, para pedir satisfações ao Grande Deus?

15 - Mesmo que eu fosse perfeito não discutiria com Ele; pelo contrário, pediria misericórdia pois, Ele é o meu Juiz.

16 - E mesmo se mi­nhas, orações fossem respondidas, custa­ria a crer que Ele tivesse dado ouvidos à minha voz.

17 - Porque Ele está me des­truindo como uma tempestade violenta e, sem motivo, me castigando com uma doença que piora a cada dia. 18 - Ele nem me deixa respirar, mas enche a minha; vida de amargura.

19 - A verdade, porém, é que somente Ele é Todo-poderoso e justo.

20 - "E eu? Por acaso sou justo? Eu mesmo reconheço que não! E ainda que aos olhos dos homens eu fosse considerado justo. Deus me condenaria.

21 - Eu tenho certeza de estar inocente diante de Deus, mas nem tenho coragem de pensar nisso. Para mim, minha vida não vale nada. 22 - Já não faz diferença, pois Deus castiga do mesmo modo o justo e o pecador.

23 - Ele acha graça quando a desgraça cai sobre o inocente, sem aviso.

24 - Este mun­do é dominado por homens perversos e Deus ainda permite que as autoridades fe­chem os olhos à justiça. Se não é Ele quem causa todo esse mal, quem é, afi­nal?

25 - Minha vida passou depressa como o vento, meus dias foram cheios de sofri­mento e dor.

26 - Minha vida passou de­ pressa e desapareceu como um barco veloz, como a águia que se lança sobre sua vítima.

27 - Eu posso dizer a mim mesmo: "Esse meu sofrimento não existe; não vou mais reclamar contra Deus, vou esquecer mi­nha tristeza e ficar alegre”.

28 - Nada disso adianta porque as minhas dores não me deixam em paz e porque eu sei que Deus não me considerará inocente,

29 - mas me condenará. Para que então, continuar so­frendo?

30 - Mesmo que eu me lave com a água-mais pura e limpe minhas mãos com soda; cáustica,

31 - eu sei que me afundará na lama e no lodo, ó Deus; e perto de mim, as minhas roupas sujas pareceriam limpas.

32 e 33 - Infelizmente, Deus não é homem, como eu. Se fosse, poderíamos ir ao tri­bunal e discutir nosso caso, perante um juiz. Mas, não há um juiz capaz de deci­dir nossas questões com Deus e nos deixar em paz com Ele.

34 - Ah, quem dera que Ele parasse de me castigar! Assim eu não vi­veria dominado pelo medo, como agora.

35 - Então, poderia falar diretamente com ele sem medo, e dizer: que não sou culpa­do.

 

CAPITULO 10

1 - JÁ ESTOU CANSADO de viver. Vou abrir meu,coração e contar a to­dos os meus sofrimentos e a tristeza que enche a minha alma.

2 – Direi a Deus: "Não me condene sem ao menos me dizer por que razão o Senhor me castiga.

3 - O Se­nhor acha justo que eu receba um castigo tão pesado enquanto os perversos sobem na vida e vivem felizes? Afinal, eu também sou sua criatura.

4 a 7 - Por acaso o Senhor julga como o homem julga? Será que a sua vida é tão curta que tem de me condenar às pressas, por pecados que não cometi? O Senhor sabe muito bem que não sou culpado, mas assim mesmo me castiga porque sabe que ninguém pode me livrar da sua mão.

8 - Com as suas próprias mãos o Senhor me formou, com todo o cuidado, e agora tenta me destruir.

9 - Lembre-se de que sou feito de barro. Por que, agora, quer me reduzir a pó?

10 - O Senhor já me derra­mou como se eu fosse leite e já me coa­lhou como queijo.

11 - O Senhor me deu uma estrutura de ossos e cobriu a minha carne de pele.

12 - Na sua bondade, me deu vida e cuidou de mim com carinho.

13 - "Em todo esse tempo, havia um propósito secreto em seu coração; mas agora, eu sei bem qual é esse propósito.

14 - O Senhor me observa de perto para me castigar, sem perdão, ao menor pecado.

15 - Sendo pecador, não tenho esperança de escapar; e se eu fosse justo, isso não me ajudaria em nada. Estou coberto de ver­gonha e frustração.

16 - Se eu tento afirmar minha inocência o Senhor me persegue como se eu fosse um leão feroz e me casti­ga com um poder que não posso explicar.

17 - O Senhor me acusa sem parar, vez após vez, e lança sobre mim a sua grande ira; sofro grandes males e dores.

18 - Por que me deixou então nascer? Quem me dera ter morrido antes de nas­cer!

19 - Eu nunca teria conhecido os sofri­mentos desta vida; teria ido direto do ven­tre de minha mãe para a sepultura.

20 e 21 - Veja como são poucos os dias de vida que eu ainda tenho! Pare de me castigar e deixe-me em paz, ao menos para eu poder descansar um pouco antes de partir para o lugar de onde não voltarei, o reino da escuridão e da morte,

22 - uma região escu­ra, de trevas profundas, o país da sombra e da desordem, onde a própria luz é escu­ra como a meia-noite.

 


CAPÍTULO – 11

1 - ZOFAR, O NAAMATITA, respon­deu a Jó:

2 - "Será que toda essa falação vai ficar sem resposta? Será que você vai tentar se justificar com essa conversa?

3 - Você pen­sa que elogiando a si mesmo será capaz de calar outras pessoas? Pensa que pode zombar e desafiar a Deus sem ser repreen­dido por alguém?

4 - Você afirma que sua vida e seus pensamentos são perfeitos aos olhos de Deus.

5 - Ah, quem dera que Deus falasse e dissesse o que Ele pensa a respei­to de você!

6 - Quem dera que Ele lhe mos­trasse tudo que sabe a seu respeito, Jó! Então você conheceria a sabedoria de Deus, tão grande e variada. E fique sa­bendo disso, Jó: Deus ainda está deixan­do de lado boa parte de seus pecados sem castigo!

7 - Por acaso você conhece os planos de Deus? É capaz de compreender como Ele é puro e perfeito?

8 - A sabedoria divina é mais alta que os céus; como é que você pretende discutir com Ele? A sabedoria divina é mais profunda que o mar; como é que você pensa em ser mais sábio do que Ele?

9 - Deus é maior do que a terra e que o mar.

10 - Se Ele considera um homem cul­pado, julga esse homem e lhe dá o castigo merecido, quem poderá impedir?

11 - Deus conhece muito bem os homens vazios, e sem esforço Ele conhece o pecado de cada um.

12 - E você se julga sábio! O homem só será sábio no dia em que a cria de um bur­ro bravo nascer homem!

13 a 15 - Este é o segredo de uma vida tranqüila e sem temor diante de Deus: faça um propósito em seu coração de obe­decer a Deus, ore sinceramente a Ele e dei­xe de lado todos os seus pecados e injusti­ças. Então você poderá aparecer diante de Deus de cabeça erguida!

16 - Os seus sofri­mentos ficarão para trás, como águas pas­sadas, e você nunca mais se lembrará de­les.

17 - Sua vida será clara como o meio-dia; as horas que antes eram escuras como a noite se tornarão claras como um dia sem nuvens.

18 - Você viverá tranqüilo e a vida será cheia de esperança. Você dormirá em paz e segurança.

19 - Não haverá inimigos para perturbar o seu sono pois todos vão que­rer a sua amizade.

20 - Os pecadores rebel­des, por outro lado, se cansarão à procu­ra de uma solução para seus problemas; para eles, a única esperança, o único con­solo, é a morte.

 


CAPITULO 12

1 - ESTA FOI A resposta de Jó:

2 - Ao que me parece vocês são os donos da sabedoria, são a voz do povo.

3 - Pois bem, eu também possuo alguma sa­bedoria; não fico atrás de vocês! Além disso, qualquer um sabe o que vocês estão me dizendo! 4 - Veja o que me aconteceu! Eu era um homem justo e bom; quando eu orava, Deus respondia as minhas orações. Agora, porém, os meus próprios amigos zombam e fazem pouco caso de mim!

5 - Vocês se sentem muito seguros e por isso zombam de quem está sofrendo, empurram quem já está tropeçando!

6 - Além disso, os malvados vivem em paz e os que zombam de Deus vivem em paz e segurança, fazendo da sua própria força um deus.

7-9 - "E quem neste mundo não sabe que Deus determinou e realizou todas essas coisas? Pergunte aos animais do campo, às aves dos céus, aos peixes do mar, à própria terra, e eles todos responderão que foi o Senhor quem quis assim.

10 – Nas mãos de Deus estão as almas de todas as criaturas vivas, a vida de todos os ho­mens.

11 - Assim como eu posso perceber se uma comida é gostosa ou não com a mi­nha boca, meus ouvidos me dizem se suas palavras são verdadeiras ou falsas.

12 - Ida­de não é garantia de sabedoria; nem todos os velhos conhecem a vida de verdade.

13 - Deus é que possui a sabedoria e o po­der! Ele conhece a História de cor e sabe muito bem o que fazer conosco.

14 - O que Deus destrói, ninguém conse­gue reconstruir! Quando Ele prende um homem em suas mãos, ninguém é capaz de libertar.

15 - Ele segura a chuva e seca as nuvens carregadas de água; se Ele deixa a chuva cair, há enchentes e inundações.

16 - Sim, a Deus pertencem a sabedoria e o poder. A Ele pertencem tanto quem enga­na como quem é enganado.

17 - Ele mostra para quem quiser ver co­mo são tolos e loucos os conselheiros e juízes da terra.

18 - Ele acaba com a autori­dade dos reis e eles são presos como escra­vos.

19 - Os sacerdotes também são levados como escravos. Deus acaba com o poder das famílias antigas e ricas.

20 - Ele tira dos oradores a capacidade de fazer belos dis­cursos; tira dos idosos a capacidade de dar bons conselhos.

21 - Ele faz os príncipes serem desprezados e enfraquece os pode­rosos.

22 - Ele mostra bem claramente os planos e pensamentos escondidos, lançan­do a sua luz sobre as trevas profundas.

23 - Ele torna uma nação poderosa e depois a destrói. Espalha os moradores de um país e depois forma novamente esse mes­mo povo.

24 - Ele tira das autoridades a ca­pacidade de entender os problemas de seu país. Os líderes das nações caminham sem destino e sem rumo, como num deserto.

25 - Andam às escuras, tentando achar seu caminho como cegos, tropeçando e caindo como bêbados.

 


CAPITULO 13

1 - "EU SEI MUITO bem do que vocês estão falando. Já vi muitos casos se­melhantes e conheço de sobra este proble­ma.

2 - Conheço a vida tão bem quanto vocês; não sou um ignorante.

3 - Por isso é que eu reclamo da minha sorte perante o Grande Deus e tento me defender, pro­vando que sou inocente,

4 - porque vocês torcem o sentido das minhas palavras. Vo­cês são médicos que não sabem descobrir doenças!

5 - Se vocês calassem a boca mos­trariam mais sabedoria do que me dando esses conselhos tolos!

6 - Ouçam bem as minhas razões, escu­tem com atenção a minha defesa!

7 - De que adianta vocês falarem essas mentiras tolas e pensarem que são 'men­sageiros de Deus'?

8 - Será que Deus ficaria satisfeito em ver que vocês torcem a ver­dade para provar que Ele está certo?

9 - Po­bres de vocês se Ele lhes mostrasse o que há em seus corações! Sabem o que estão fazendo? Estão zombando de Deus

10 – e por isso Ele lhes dará um castigo severo, pois vocês estão usando mentiras para "ajudar" o Senhor.

11 - Será que vocês não sentem medo diante da grandeza de Deus? Será que não se sentem pequenos diante do poder de Deus?

12 - Suas belas palavras valem tanto quanto um punhado de cinza. As bases de sua filosofia são fracas como colunas feitas de barro.

13 - Fiquem quietos por algum tempo e deixem-me falar; estou pronto a sofrer as conseqüências.

14 - Sim, vou arriscar tudo que tenho, minha própria vida, para de­fender minha inocência.

15 - Deus pode me matar por isto, e penso que vai fazê-lo; mas mesmo assim, vou mostrar que sem­pre agi com justiça.

16 - Uma esperança pe­los menos tenho: não sou um pecador re­belde e desobediente e assim posso ao me­nos chegar perante Ele sem ser destruído.

17 - Escutem bem o que vou dizer; prestem atenção aos meus argumentos.

18 - Já tenho preparada a minha defesa. Eu sou inocente e afinal Deus vai me con­siderar inocente também.

19 - Não existe uma pessoa sequer capaz de provar que eu seja culpado de algum pecado. Se exis­tisse ao menos uma pessoa, pararia de me defender e morreria.

20 - Oh Deus, eu peço apenas duas coisas para poder chegar sem medo à sua pre­sença.

21 - E não me abandone! E não me as­suste coma grandeza terrível do seu po­der!

22 - Então, peça contas de minha vida e eu responderei; ouça a minha defesa e fa­larei.

23 - Mostre-me bem claramente quais são as minhas culpas e os meus pecados.

24 - Por que o Senhor se esconde de mim e me considera seu inimigo?

25 - Eu sou frágil, e sem valor como uma folha levada pelo vento, como um pedaço de palha seca; por que, então, se incomoda comigo e me persegue tão duramente?

26 - O Senhor preparou para mim um castigo terrível e me condenou pelos peca­dos que cometi quando ainda era um jo­vem sem juízo.

27 - O Senhor observa cada um dos meus passos e me obriga a andar pelo caminho que escolheu.

28 - O Senhor faz tudo isso, apesar de eu ser apenas co­mo um tronco de árvore, caído e podre; como um trapo velho, comido pelas traças.

 


CAPITULO 14

1 - COMO É CURTA a vida do homem, cheia de medo e sofrimento!

2 - Ele nasce e cresce como uma bela flor, mas logo murcha e morre. Ele some depressa, como a sombra de uma nuvem que passa no céu.

3 - Como pode o Senhor, ó Deus, pedir contas a uma criatura tão fraca e sem valor como o homem? 4 - Como pode exigir que o homem, impuro por nature­za, aja com justiça? Isso é impossível!

5 - O Senhor mesmo determinou a duração da vida humana; e como ela é curta!

6 - Por is­so, pare de vigiar o homem tão de perto! Dê um pouco de descanso ao homem, pa­ra que ele ache um pouco de prazer na vi­da.

7 - Até uma árvore cortada tem esperança, pois pode voltar a produzir ramos e folhas.

8 - Mesmo quando as raízes enve­lhecem e o tronco seca, ela voltará a cres­cer.

9 - Regada pela chuva, ela crescerá co­mo se fosse uma planta nova.

10 - Mas o homem, quando morre, não volta a viver. Morre e ninguém sabe para onde vai sua alma.

11 - As águas dos rios e lagos secam e desaparecem quando há uma seca;

12 - do mesmo modo, o homem dorme o seu úl­timo sono e não acorda até que os céus deixem de existir.

13 - Quem dera que o Se­nhor me escondesse entre os mortos até a sua ira passar, e então se lembrasse de mim na hora certa!

14 - Quando o homem morre, por acaso volta a viver? Essa esperança é que me faz agüentar os sofrimentos desta vida até chegar o dia de passar para aquela vida melhor.

15 - O Senhor me chamaria e eu responderia; então o Senhor me mostra­ria o seu amor.

16 - Mas agora, o Senhor vi­gia de perto os meus passos. Não é verda­de que toma nota de cada um de meus pe­cados?

17 - Minhas desobediências são ajuntadas e cada vez que faço algo de er­rado, o Senhor coloca um pecado a mais na minha conta.

18 - Como o tempo e o vento destroem grandes montes e tiram pedras de seu lu­gar,

19 - como a água corrente vai desgas­tando as pedras e as margens dos rios, as­sim o Senhor destrói, uma após outra, as esperanças do homem.

20 - A todo instante, luta contra ele, até a morte. Faz o seu ros­to mudar, ficar velho e enrugado e final­mente manda o homem para o reino dos mortos.

21 - Seus filhos crescem e se tornam famosos e respeitados mas ele nada sabe disso. Por outro lado, eles podem ser um completo fracasso na vida e não fará a menor importância para ele.

22 - Para ele só existe sofrimento e dor.

 


CAPITULO 15

1 - ESTA FOI A resposta de Elifaz, o te­manita:

2 - Como você pode se considerar um sábio, dando respostas vazias como essa? Isso é pura conversa, sem o menor sentido.

3 - Para que falar tanto sem propósito, e apresentar razões completamente sem lógica?

4 - Você só está demonstrando que não respeita a Deus e não dá a Ele o devi­do valor.

5 - Suas palavras são resultado de seu pecado e você fala com segundas in­tenções, para nos enganar.

6 - Saiba que nós não precisamos acusar você; as suas pró­prias palavras farão isso!

7 e 8 - Por acaso você é o primeiro ho­mem que nasceu sobre a terra, mais velho que os montes e morros? Por acaso você é o dono da verdade e da sabedoria? Por acaso você conhece os planos secretos de Deus?

9 - O que você pensa saber mais do que nós? Não existe nada que você co­nheça melhor do que nós!

10 - Homens sábios e idosos, mais velhos do que seu próprio pai, têm a mesma opinião que nós temos.

11 - Por que você despreza a aju­da e o consolo que Deus lhe oferece através das nossas palavras amigas?

12 - Por que você se deixou levar pela ira? Até pelo seu olhar podemos perceber que você está fervendo de raiva,

13 - está fu­rioso com Deus e por isso fala coisas tão horríveis contra Ele.

14 - Como é que você, um simples homem, se considera puro e sem pecado? Como você pode pensar que é justo perante Deus?

15 - Fique sabendo que Deus não considera nem os próprios anjos inocentes e puros! Perto da santida­de de Deus até o céu é impuro!

16 - Que di­zer então de nós, homens, perversos por natureza e cheios de pecado como uma es­ponja que cai na água?

17 a 19 - Escute com atenção e eu lhe mos­trarei o que descobri observando a vida. Isso é o que descobriram os sábios do pas­sado, que por sua vez já tinham ouvido as mesmas verdades de antigos parentes; sim, estas verdades já eram conhecidas pelos primeiros habitantes desta terra.

20 - O pecador rebelde sofre durante to­da a sua curta vida nesta terra.

21 - Ele vive cercado pelo medo e quando afinal conse­gue ajuntar riquezas e fama, perde tudo de repente.

22 - Ele tem medo de sair na es­curidão, porque pensa que vai ser assassi­nado.

23 - Seu destino é andar pedindo es­molas para conseguir comida. Ele bem sa­be que o dia escuro do castigo chegará bem depressa.

24 - Ele vive dominado pelo medo, pelas angústias e tribulações, por­que é incapaz de resistir a essas coisas.

25 - Tudo isso acontece porque ele se revol­tou contra Deus, desafiou o Todo-­Poderoso.

26 - Pensando que suas riquezas são um escudo forte, ele ataca a Deus e faz ameaças.

27 e 28 - "Ele usou suas riquezas para satis­fazer seus apetites e acabou ficando gor­do como um boi. Além disso, usou violên­cia para roubar as casas e propriedades de outras pessoas, matando os verdadeiros donos.

29 - Por causa disso, suas riquezas não ficarão com ele por muito tempo e ele não conseguirá novas riquezas.

30 - Ele não escapará do castigo e das trevas; o fogo destruirá tudo que possui; com um sopro de Deus ele se vai.

31 - Por isso, ele não deve confiar nas suas riquezas, porque quem confia nelas acabará decepcionado.

32 - Algum dia, as riquezas acabarão e ele se verá num beco sem saída, sem solução para seus proble­mas.

33 - Suas esperanças cairão por terra, uma por uma, como uvas secas, como as flores da oliveira que murcham e caem. Todos os seus sonhos darão em nada!

34 - A vida dos homens rebeldes contra Deus não tem sentido nem utilidade. Deus destruirá com fogo as riquezas do perverso.

35 - Deles só brota a maldade; eles só podem viver desobedecendo a Deus, porque têm cora­ção enganoso e mau.

 


CAPITULO 16

1 - JÓ RESPONDEU assim a seu amigo Elifaz:

2 - Já estou cansado de ouvir o que vo­cês estão me dizendo. Afinal, que espécie de amigos são vocês? Querem me conso­lar ou me acusar?

3 - Suas palavras é que são vazias e sem sentido. O que eu fiz pa­ra vocês me encherem os ouvidos com es­sas respostas tolas?

4 - Se eu estivesse em seu lugar e você, Elifaz, em meu lugar, é bem provável que eu lhe dissesse as mes­mas tolices, esse montão de palavras que vocês me disseram. Sim, talvez fizesse as mesmas acusações contra você.

5 - Não! Eu não faria uma coisa dessas! Eu falaria com interesse e sinceridade palavras cheias de amor, para diminuir o seu sofri­mento.

6 - Mas agora, a minha dor não passa mesmo que eu abra o meu coração e diga tudo o que sinto e penso.

7 - Já não tenho mais forças sequer para chorar pelas mi­nha família que o Senhor destruiu com­pletamente.

8 - Meu sofrimento acabou com a minha saúde e ainda por cima, meus amigos vem me dizer que cheguei a este ponto por causa de meus pecados contra Deus!

9 - Sim, Deus está furioso co­migo e me castigou na sua ira, como se eu fosse seu inimigo. Como castigo, Ele pra­ticamente destruiu a minha vida! 10 – OS homens também vêm me acusar com suas palavras e mostram desprezo pela minha triste condição. Deus, homens, amigos, todos estão contra mim!

11 - Deus mesmo me entregou na mão dos pecadores per­versos para me castigar.

12 - Eu vivia em paz até o dia em que Ele me arrasou com seu castigo. Sim, Ele me destruiu; fez minha vida em pedaços e me escolheu como alvo de suas flechas.

13 - Elas se cravam em mim "sem piedade, furando e ferindo o meu corpo, molhando o chão à minha volta com o meu sangue.

14 - Sem parar, fazendo ferida sobre ferida, Deus me ataca como um soldado ao seu inimigo.

15 - Como sinal da minha tristeza, eu me esfreguei na cinza ao ponto dela fa­zer parte da minha pele: Deus derrubou o meu orgulho e esmagou a minha honra no pó da terra.

16 -Já não tenho mais lágri­mas; os meus olhos já estão vermelhos de tanto chorar e tenho profundas olheiras, como um homem prestes a morrer.

17 - Tudo isso me acontece embora eu seja inocente, não tenha pecado contra Deus e seja sempre sincero nas minhas orações.

18 - Ó terra, não esconda o meu sangue antes da minha inocência ser pro­vada! Não deixe sem resposta a minha de­fesa!

19 - E vocês, 'amigos', fiquem sabendo que Deus, lá no céu, é testemunha da mi­nha inocência. O meu Advogado está lá em cima, no céu.

20 - Vocês zombam de mim enquanto eu derramo lágrimas since­ras diante de Deus,

21 - pedindo que Ele me ouça como faria um homem com seu ami­go.

22 - Porque eu sei que em breve seguirei por aquela estrada que não tem volta.

 


CAPITULO 17

1 - MINHA VIDA VAI sumindo aos poucos, como uma vela que se apa­ga. Bem sei que meu destino é a sepultu­ra.

2 - Estou cercado de gente que zomba e faz pouco caso de mim;

3 - Ó Deus, por fa­vor, fique do meu lado! Dê-me alguém que confirme a minha inocência,

4 - porque todos estão cegos. Não permita que esse falso julgamento destrua a verdade!

5 - Se aceitam gorjeias desonestas para acusar seus amigos, que fiquem cegos os seus filhos.

6 - Deus me transformou em motivo de riso e zombaria para o povo; eu me tornei um pobre coitado, desprezado por toda a sociedade.

7 - Por isso, chorei tanto que mal consigo enxergar. Já não sou nem sombra do que era antes, minha vida se acaba a cada dia que passa.

8 - Os justos fi­cam espantados ao ver o meu estado e sentem raiva por ver o justo sofrendo e o perverso em perfeita paz e tranqüilidade.

9 - Mas, apesar disso, o justo seguirá seu caminho e será cada vez mais feliz e pode­roso nesta vida.

10 - Por isso, vocês podem continuar me acusando; eu sei que não existe um sábio entre vocês, capaz de falar e enten­der a verdade.

11 - A minha vida ficou para trás, meus planos não se realizaram e meus desejos não se cumpriram.

12 - Os que me acusam torcem à verdade, dizendo que a luz é treva e a treva é luz.

13 e 14 - Já estou esperando o dia em que minha casa será uma sepultura, e, então vi­verei em trevas para sempre. O túmulo será meu pai e os vermes da terra meus ir­mãos.

15 - Sendo assim, de que serve ter es­perança?

16 - Não! Minhas esperanças se­rão sepultadas junto comigo e juntos des­cansaremos debaixo da terra.

 


CAPITULO 18

1 - PELA SEGUNDA VEZ, Bildade, o suíta, respondeu a Jó:

2 - Por que você insiste em dar respos­tas longas e sem sentido? Fale alguma coisa inteligente se você quer que respon­damos.

3 - Será que você pensa que somos animais, estúpidos e sem inteligência?

4 - Você está furioso com a vida e tenta se destruir; pensa que por causa disso o mundo vai acabar?

5 - A verdade nua e crua é a seguinte: você cometeu algum pecado sério e por is­so aconteceu todo este sofrimento, pois o pecador rebelde não escapa sem castigo.

6 - A vida do pecador é uma escuridão constante, sem luz e sem direção.

7 - O andar confiante do perverso dará lugar a passos pequenos e medrosos; ele será destruído pelos seus próprios planos malvados.

8 - Ele caminhará direto para a desgraça e a destruição.

9 - Cairá em arma­dilhas e será atacado à traição.

10 - Em to­dos os caminhos do perverso há uma cova funda na qual ele cairá.

11 - Ele vive cheio de medo, porque os inimigos cercam sua vida por todos os lados.

12 - Os sofrimentos e misérias cairão sobre ele como um homem faminto sobre um prato de comida, e nunca o deixarão em paz.

13 - A doença acabará com a saúde do perverso e seu corpo será comido pela peste, até à morte.

14 - Ele pode se proteger numa casa grande e segura mas será ar­rancado de lá, pelas garras da morte, o maior inimigo do homem. 15 - Seu lar será destruído e sua família será espalhada pe­la terra.

16 - O perverso morrerá como uma árvore cujas raízes foram arrancadas e cujos ramos foram cortados.

17 - Ele será esquecido por todos e seu nome será desprezado por todos que vive­rem depois dele.

18 - Será expulso do mun­do dos vivos e lançado no reino das tre­vas, expulso da civilização.

19 - Seus filhos morrerão sem ter filhos e sua família aca­bará junto com ele.

20 - Em todo a terra, de leste a oeste, todos ficarão assustados vendo o triste destino desse homem. 21 - Tal como aconteceu com você, Jó, acontece a todos que se revoltam contra Deus.

 


CAPITULO 19

1 - JÓ RESPONDEU:

2 - Até quando vocês vão me casti­gar com essas acusações falsas? Até quando encherão meu coração de triste­za?

3 - Já perdi a conta de quantas vezes vo­cês me ofenderam e me acusaram de ser um pecador rebelde. Para vocês, isso pa­rece ser algo sem a menor importância.

4 - Eu reconheço que não sou perfeito mas nenhum de vocês pode provar que cometi um pecado digno de tão terrível sofrimen­to.

5 - Vocês estão querendo usar a minha desgraça para provar a si mesmos que são muito justos e sinceros. Provem então que eu estou errado!

6 - Fiquem sabendo que meu sofrimen­to veio de Deus e Ele é o único res­ponsável pelo que está me acontecendo. Ele me prendeu como um peixe em sua rede!

7 - Eu grito pedindo socorro mas nin­guém é capaz de me ajudar, ninguém ou­ve meus pedidos de ajuda.

8 - Deus trans­formou os meus caminhos em becos sem saída; encheu a estrada da minha vida de escuridão.

9 - Ele acabou com a minha honra e tirou a coroa da minha cabeça.

10 - Ele destruiu a minha vida de todas as manei­ras possíveis, e por isso, nada me resta se­não morrer. Minha esperança se foi, co­mo uma árvore arrancada da terra.

11 - Ele me considerou um inimigo e a sua ira ar­deu como um fogo contra mim.

12 - Man­dou seus exércitos me atacarem e cerca­rem a minha casa.

13 - Ele fez meus parentes se afastarem de mim e meus amigos me considerarem um desconhecido.

14 - Meus parentes não me dão ajuda e meus amigos nem se lem­bram de mim.

15 - Meus próprios emprega­dos, que vivem em minha casa, me des­prezam e dizem que eu sou um estranho.

16 - Eles já não me obedecem e eu preciso pedir humildemente, se quero que meus servos façam algo para mim.

17 - Minha própria esposa não chega perto de mim por causa do mau cheiro que sai de minha boca quando falo; por causa do mau chei­ro dessas feridas abertas, meus próprios irmãos não se aproximam de mim.

18 - Até as crianças zombam de mim e riem às minhas custas quando tento me levantar.

19 - Meus amigos mais chegados, aque­les a quem eu mais amava, também me condenam e me desprezam.

20 - Estou que é só pele e osso e escapei da morte por um fio.

21 - Tenham pena de mim, meus ami­gos! Tenham pena de mim, porque a mão de Deus me derrubou.

22 - Já não chega o castigo que recebo de Deus? Será que vo­cês também vão se voltar contra mim?

23 - Ah, como eu gostaria de ver minhas pa­lavras escritas e gravadas em um livro!

24 - Quem dera que elas fossem gravadas para sempre numa rocha, a ferro e fogo!

25 - Mas apesar disso tudo, eu sei que o meu Redentor vive e finalmente aparecerá na terra.

26 - Eu sei que mais tarde, 'vestido' com um novo corpo, estarei na presença de Deus.

27 - Sim, eu verei Deus face a face! Ninguém vai precisar me contar coisas so­bre Ele! Como desejo que esse dia chegue logo!

28 - Por isso, se vocês insistem em me acusar e em dizer que estou sofrendo por causa de meus muitos pecados,

29 - tomem cuidado! Deus sabe que essas acusações são falsas e dará um castigo severo a vo­cês"

 


CAPITULO 20

1 - ENTÃO ZOFAR, o naamatita, respondeu a Jó pela segunda vez:

2 - Eu preciso dizer o que estou pensan­do imediatamente, porque as suas pala­vras, Jó, exigem uma resposta.

3 - Ouvi com atenção sua resposta e suas acusa­ções contra mim e por isso tenho de res­ponder de acordo com a minha consciên­cia.

4 - Você não compreende que desde que o mundo é mundo, desde que existe gente na terra,

5 - a alegria dos pecadores rebel­des dura apenas um momento?

6 - Mesmo que ele seja cheio de si e orgulhoso de tu­do que tem, a ponto de se considerar um deus,

7 - o perverso perecerá para sempre, como esterco. Seus conhecidos todos vão querer saber onde ele foi parar.

8 - Ele pas­sará depressa como um sonho, desapare­cerá como um pesadelo que acaba de re­pente.

9 - Os que eram mais chegados a ele, seus filhos e sua família, nunca mais o ve­rão.

10 - Os filhos do perverso ficarão em completa pobreza e terão de trabalhar muito para pagar as dívidas do pai.

11 - Mesmo que ainda seja jovem e cheio de saúde, o perverso será castigado com a morte.

12 e 13 - Para o perverso, a maldade tem um gosto doce e ele gosta de saborear as maldades que faz, como se fossem uma comida deliciosa.

14 - No entanto, essa comida deliciosa deixará um gosto amargo e se transfor­mará em veneno dentro dele.

15 - Deus não deixará as riquezas que o perverso roubou ficarem com ele; serão vomitadas como comida estragada.

16 - Ele encheu seu co­ração de maldade, um veneno terrível que acabará tirando a sua vida.

17 - Ele não aproveitará as coisas belas da vida – rios correndo pelos campos, cobertos de flo­res que dão o mel, e de gado que dão leite.

18 - O perverso não aproveitará o fruto de seu trabalho; seus lucros desonestos não trarão a menor alegria.

19 - Tudo isso por­que explorou os pobres e tomou à força as propriedades de outras pessoas.

20 - Por causa da sua ambição sem limites, o per­verso perderá tudo que tanto desejou e so­nhou conseguir.

21 - Ele nunca perdeu uma oportunidade de roubar para conseguir riquezas e por isso perderá toda a sua for­tuna.

22 - Quando atingir o máximo da rique­za, o castigo de Deus cairá sobre ele vio­lentamente; os perversos vão acabar com ele.

23 - Para alimento, Deus fará chover a sua ira sobre o perverso, até ele dizer: 'Não agüento mais!'

24 - Ele pode escapar de seus inimigos uma vez, mas por fim será destruído.

25 - Ferido à traição, ele ar­ranca a flecha cravada em suas costas e ela vem brilhando com sangue. O feri­mento é mortal e o perverso é dominado pelo medo da morte!

26 - Desastre após desastre acabará com as riquezas do perverso; um incêndio que ninguém saberá explicar destruirá to­dos os tesouros que ele ajuntou em sua casa.

27 - O céu revelará o pecado do per­verso e a terra acusará o pecador rebelde.

28 - As riquezas do perverso desaparecerão como água escorrendo por entre seus de­dos no dia do castigo de Deus.

29 - Veja bem, Jó, pois isto é o que acontece ao ho­mem que se revolta contra Deus. Esse é o terrível castigo que Deus manda contra ele.

 


CAPITULO 21

1 - QUANDO ZOFAR TERMINOU, Jó respondeu:

2 - Ouçam o que eu digo! Se ao menos vocês ouvirem, isso já será um alívio para o meu coração.

3 - Tenham um pouco mais de paciência comigo e depois que eu falar vocês podem zombar o quanto quiserem.

4 - Vocês pensam que estou reclamando de vocês? De jeito algum! Estou recla­mando de Deus e tenho boas razões para isso!

5 - Olhem só para mim! O meu estado não lhes dá um calafrio na espinha?

6 - Vou dizer algo que me dá arrepios só de pen­sar, que me deixa apavorado.

7 - Apesar de tudo o que vocês dizem, é o perverso que vive mais tempo e tem uma velhice cheia de riquezas e alegrias.

8 - Ele vê seus filhos formarem família e conhece seus netos.

9 - A família do perverso vive em paz e Deus não se importa em lhes mandar o castigo merecido.

10 - Se o per­verso tem gado, há sempre muitas crias, fortes e saudáveis.

11 - O perverso tem mui­tos filhos, que vivem felizes como ovelhas num pasto.

12 - O perverso tem vida mansa, cantando e dançando alegremente.

13 - Ele não passa qualquer dificuldade, sempre tem tudo que deseja e morre tranqüila­mente.

14 - Ele é a criatura mais feliz da ter­ra, apesar de ter rejeitado a Deus, desobe­decido às suas leis e ter dito ao Senhor: 'Não preciso de Ti'.

15 - Ele zomba de Deus dizendo: Quem é esse Deus Todo-poderoso? Para Que fa­zer orações a ele? Isso não adianta nada!

16 - E vocês sabem muito bem Que é Deus quem dá aos perversos todas as riquezas que eles possuem. Eu tinha muitas riquezas também mas era grato a Deus por causa delas.

17 - Mas compare a minha vida com a do perverso! Ele nunca é casti­gado, nunca fica nas trevas do desespero, do medo e da dor!

18 - Por acaso eles se tornam como uma palha carregada pelo ven­to, como uma folha levada pela tempesta­de? Nunca!

19 - Mas vocês dirão: Ao menos Deus manda o castigo contra os filhos do per­verso! Grande vantagem! Deus devia mesmo é castigar o perverso, para que ele sinta dor por causa de seus pecados.

20 - O perverso deveria ver com seus próprios olhos a sua destruição completa. Ele mes­mo deveria beber o vinho amargo da ira de Deus!

21 - Depois de morto, não vai fa­zer a menor diferença para ele, se sua família está sofrendo ou não!

22 - No entanto, quem sou eu para dar lições a Deus, o Supremo Juiz? 23 - O ho­mem rico morre feliz e despreocupado,

24 - bem alimentado e com boa saúde.

25 - O pobre morre triste e sofrido, sem nunca ter experimentado as alegrias da vida.

26 - No entanto, ambos são enterrados e co­bertos com a mesma terra, e depois comi­dos pelos mesmos vermes.

27 - Eu sei bem o que vocês estão pen­sando e o mau juízo que estão fazendo a meu respeito.

28 - Vocês estão pensando: Sua casa, Jó, onde está? Onde estão suas riquezas, onde estão seus filhos? Foram destruídos logos, você é um desses perver­sos de que estamos falando.

29 e 30 - Mas ex­perimentem perguntar a alguém que via­jou e conhece o mundo! Sem dúvida, eles dirão que os perversos sempre escapam do sofrimento e do castigo, que eles sem­pre recebem ajuda no dia da ira de Deus.

31 - Nunca aparece alguém para mostrar abertamente ao perverso os crimes que ele cometeu, nem para dar a ele o castigo mais do que merecido.

32 - O resultado é que ele acaba morrendo como um herói, como um benfeitor da humanidade, e to­dos lutam para carregar o seu caixão e fi­car um pouco ao lado do túmulo. 33 - Uma grande multidão acompanha o enterro do perverso e presta homenagens quando a terra cai mansamente sobre o seu corpo.

34 - Como, pois, vocês pensam em me aju­dar dizendo que meu sofrimento é mere­cido por causa do meu pecado? A própria base do seu raciocínio está errada e a vida prova que ela é falsa!

 


CAPITULO 22

1 - PELA TERCEIRA vez, Elifaz res­pondeu a Jó:

2 - Você pensa que pode ajudar a Deus com sua sabedoria? Por mais sábio que você possa ser, só será capaz de ajudar a si mesmo.

3 - Você pensa que Deus tira al­guma vantagem se você for um homem justo? Pensa que ele ficará mais feliz se você for honesto e obediente?

4 Ou será que você pensa que Deus lhe dá esse casti­go justamente porque você respeita e obe­dece a Ele?

5 - De jeito nenhum! Você está sendo castigado porque é um pecador re­belde! Seus pecados, Jó, são muitos e muito grandes!

6 - Por certo você exigiu que seus ami­gos deixassem até as roupas como garan­tia antes de lhes emprestar um pouco de dinheiro; imagine, fazer isso com gente pobre que quase já não tem com que se vestir!

7 - Ou então você negou um pouco de água a um viajante cansado! Ou quem sabe você não quis dar um pedaço de pão a uma pessoa faminta?

8 - Você deu sem dúvida aos importantes tudo o que eles queriam, e deixou os ricos morarem onde escolhessem.

9 - Sim, você deve ter negado ajuda a alguma viúva pobre e mandado espancar crianças sem família que vi­nham pedir auxílio à porta de sua casa.

10 e 11 - É por isso que você está cercado de sofrimento, de dor, dominado pelo medo. É por isso que seu caminho é escuro e vo­cê se sente afogado em grandes ondas.

12 - Deus vive lá no alto céu e de lá Ele observa bem a sua vida. Ele é Grande e Poderoso, maior do que os céus e conhece a sua vida.

13 - Sim, eu sei o que você pen­sa: É por isso que Deus me castigou as­sim! Ele está tão longe, encoberto por grossas nuvens, que não pode julgar mi­nha vida corretamente.

14 - Ele não é capaz de ver o que acontece comigo porque está longe demais, passeando pelo céu afora.

15 - Você acha que seria melhor fazer o que os perversos fazem? Eu lhe mostra­rei a vida dos perversos e o seu triste fim.

16 - Os perversos sempre morrem cedo demais; sua vida é arrastada pela morte co­mo uma casa é levada na inundação.

17 - Isso porque disseram a Deus: Não se intrometa na nossa vida! Não há nada que você possa fazer por nós; não precisamos de sua aju­da!

18 - Eu é que nunca diria uma coisa des­sas! E no entanto, eles se esqueceram de que Deus encheu seus cofres de riquezas.

19 - Quando os justos vêem o castigo dos per­versos, zombam deles e se alegram porque Deus cumpriu a sua justiça.

20 - Vejam, nossos inimigos foram destruídos! Todo o poder deles foi destruído pelo fogo! Di­zem os justos com muita alegria.

21 - Por isso, Jó, pare de discutir com Deus! Faça as pazes com Ele e ficará em paz consigo mesmo, terá tranqüilidade e alegria novamente. 22 - Aprenda a lição que Deus está lhe dando; guarde bem em seu coração as palavras que Ele diz.

23 - Se você se arrepender e voltar para Deus, Ele de­volverá tudo que você perdeu. Se você limpar todo o pecado que havia em sua família,

24 - se deixar de lado seu amor pelo dinheiro e jogar fora seu ouro fino ganho desonestamente,

25 - então o próprio Deus, o Todo-poderoso, será a sua riqueza, o seu ouro e a sua prata.

26 - Então, você se alegrará em conhe­cer a Deus e terá prazer em orar e falar com o Deus Todo-Poderoso.

27 - Suas ora­ções serão respondidas e você cumprira com alegria as promessas que fez a Ele.

28 - Todos os seus planos darão certo e os seus caminhos serão cheios de luz.

29 - Quando os seus caminhos tiverem de passar por um vale, você dirá, Para ci­ma!, e Deus transformará o vale em ca­minho plano, porque Ele salva o homem humilde.

30 - Sim, até mesmo um homem culpado será salvo porque você, um ho­mem de coração puro e mãos inocentes lhe deu ajuda.

 


CAPITULO 23

1 - ESTA FOI A resposta de Jó:

2 - Ain­da desta vez a minha queixa é de um homem magoado com Deus, pois o casti­go que Ele me deu é muito mais do que eu mereço.

3 - Ah, se eu soubesse onde encon­trar a Deus! Então poderia ir ao seu tro­no e falar de meus sofrimentos.

4 e 5 - Mos­traria a Ele o meu lado da história, daria todas as explicações necessárias e enten­deria as razões que Deus tem para me cas­tigar assim.

6 - Vocês acham que Deus usa­ria o seu grande poder para me destruir? Não! Ele me ouviria com atenção.

7 - Sen­do justo e sincero eu poderia discutir o meu caso em Ele e ser perdoado de uma vez por todas pelo meu Juiz.

8 - Mas onde encontrar Deus? Procuro aqui, ali mais adiante, um pouco mais pa­ra trás e nada encontro.

9 - Procuro a Deus de Norte a Sul mas Ele se esconde e eu na­da encontro.

10 - Ele, no entanto, sabe de tudo que me acontece e quando me exa­minar verá que sou inocente - puro co­mo ouro que passou pelo fogo!

11 - Andei cuidadosamente pelo cami­nho de Deus, sem me desviar dos seus passos.

12 - Nunca me afastei dos manda­mentos de Deus e guardei as ordens que Ele deu bem gravadas na memória.

13 - Isso que me aconteceu é parte do plano de Deus e ninguém pode fazer Deus mudar de idéia. Tudo que quer, Ele faz.

14 - Não há remédio! Deus vai fazer comigo tudo que planejou, inclusive coisas que ainda estão por vir.

15 - Não é à toa que eu me assusto tanto quando penso nEle e no que Ele é capaz de fazer.

16 - Esse coração medroso que tenho, foi Deus quem me deu! Foi Ele quem encheu minha vida de temor.

17 - Não pensem que estou com medo desses dias escuros e da morte, que está tão perto.

 


 CAPITULO 24

1 - POR QUE DEUS não faz julgamentos com data marcada? Nós, os jus­tos, gostaríamos de ver Deus usar a sua justiça mas esperamos em vão.

2 - Há crime por toda a parte! Roubo de terras, roubo de gado,

3 - até mesmo o jumento do órfão e o boi da viúva são roubados!

4 - Os po­bres e necessitados são jogados de um la­do para outro e não têm um lugar onde se proteger. 5 - Os pobres têm de lutar para conseguir um pouquinho de comida para eles e seus filhos não morrerem de fome; parecem burros bravos que vivem no de­serto, meio mortos de fome.

6 - São obriga­dos a comer raízes que crescem nos pastos e têm de catar os restos das plantações dos ricos.

7 - Sem dinheiro, são obrigados a passar frio e tomar chuva, porque não podem comprar roupa ou pagar uma ca­sa.

8 - Ficam molhados até os ossos com as tempestades pois são obrigados a viver em cavernas, como animais.

9 - Os ricos tomam os filhos dos po­bres, crianças de colo, como garantia an­tes de lhes emprestar um pouco de dinhei­ro!

10 - Por isso, os pobres andam nus, car­regando os feixes de trigo que irão ali­mentar os ricos.

11 - Nas belas casas dos ri­cos, os pobres são obrigados a espremer as azeitonas para conseguir azeite e as uvas para fazer vinho e, no entanto, mor­rem de fome e sede.

12 - Nas cidades, os ho­mens sofrem e morrem, pedindo justiça; mas para Deus, esse estado de coisas pa­rece perfeitamente normal!

13 - Os pecadores rejeitam a luz de Deus, não obedecem a lei de Deus e não andam nos caminhos de Deus.

14 - Os ban­didos agem durante todo o dia: durante o dia matam os pobres e necessitados e à noite praticam assaltos e roubos.

15 - Quan­do chega a noite, os adúlteros se disfar­çam com máscaras e atacam moças e se­nhoras, sem medo de serem castigados.

16 - Os bandidos invadem casas durante a noite e de dia se escondem para não serem reconhecidos.

17 - Eles detestam a luz do dia; para eles a luz do sol é tão horrível como a morte mas a escuridão da noite lhes dá segurança e prazer.

18 - Os perversos serão castigados e de­saparecerão da terra de um momento pa­ra o outro. Eles serão amaldiçoados e per­derão as propriedades que roubaram.

19 - A morte destruirá os pecadores como a terra seca chupa a água da chuva;

20 - Até as próprias mães se esquecerão deles; os ver­mes terão prazer em devorar a carne dos desonestos, eles serão derrubados como árvores e ninguém se lembrará deles,

21 - porque roubaram os velhos que não ti­nham família para os ajudar e maltrata­ram as viúvas necessitadas.

22 e 23 - Mas, ao que parece, Deus protege às vezes os perversos com seu poder e os tira de situações difíceis, onde poderiam morrer. Eles se acham em segurança e por isso continuam em sua carreira de crimes. Parece que Deus vigia a vida dos perver­sos para eles não serem atrapalhados em seus planos malvados.

24 - Pode ser que os perversos cresçam e se tornem poderosos, mas eu tenho esperança que isso não vai durar muito. Eles serão arrancados desta vida como todos os homens, como se fos­sem espigas no dia da colheita.

25 - Vejam se não é exatamente isso que acontece! Vocês não são capazes de me desmentir e provar que estou errado!

 


CAPITULO 25

1 - PELA SEGUNDA VEZ, Bildade, o suíta, respondeu a Jó:

2 - Fique sabendo que a vida e tudo mais pertence a Deus. Ele é poderoso e controla a paz na terra e nos céus.

3 - Ele criou estrelas e planetas sem fim, tantos que ninguém pode contar! Ele faz a sua luz brilhar sobre todos os homens.

4 - Como é que você pensa que pode ser mais justo que Deus? Como é que você, um simples mortal, se considera inocente diante dEle?

5 - Para Deus, a lua não tem brilho e até a luz das estrelas não é pura!

6 - Quanto menos puro será o homem aos olhos de Deus? Para Ele, o homem não passa de um pequeno e sujo verme!

 

CAPITULO 26

1 - MAS JÓ RESPONDEU com muita ironia:

2 - Mas que grande ajuda vo­cê me dá, quando estou fraco e desanima­do da vida!

3 - Que fabuloso conselheiro você é, mostrando verdadeira sabedoria a mim, que não passo de um ignorante!

4 - Como foi que chegou a conclusões tão brilhantes? Quem o ajudou a descobrir essas grandes verdades?

5 e 6 - No reino dos mortos, homens e an­jos tremem de medo por causa de Deus. Ele conhece perfeitamente o Além e tudo que acontece no reino dos mortos.

7 - Deus estende o céu sobre o espaço vazio e faz a terra flutuar sobre o nada.

8 - Conserva a chuva em grossas nuvens, que não se rompem com o peso da água.

9 - Com as suas nuvens Ele esconde o seu trono.

10 - Ele colocou um limite para os oceanos, uma divisão entre a luz e as trevas, para o dia e a noite.

11 - Quando Deus fica irado até as colunas do céu estremecem.

12 - Com seu poder Ele acalma o mar; com sua sa­bedoria Ele derrota os seus inimigos.

13 - Com um simples sopro Ele transforma uma tempestade em céu azul; com sua mão Ele escurece o sol e a lua e faz voltar à claridade.

14 - Isso é apenas uma amostra do po­der de Deus, um simples sinal; quando Ele mostrar todo a sua gloriosa força, quem será capaz de sobreviver?"

 


CAPITULO 27

1 - ESTA É A ÚLTIMA defesa de Jó perante seus amigos:

2 a 5 - De uma coisa vocês podem ter certeza: tão certo como o fato de existir um Deus, o mesmo Deus que me castigou sem julgamento e encheu de tristezas a minha alma, os meus lábios não terão lugar para a injustiça, nem para a mentira. Isso nunca, enquan­to eu for vivo, enquanto tiver o fôlego de Deus em mim. Além disso, nunca lhes da­rei razão e continuarei afirmando que sou inocente.

6 - Nunca abrirei mão da minha justiça; a minha consciência está perfeita­mente limpa e sempre esteve, por toda a minha vida.

7 - E se vocês insistirem em me acusar, fiquem sabendo que isso não pas­sa de pura maldade; quem me acusa de ser um rebelde não passa de um perverso pecador.

8 - Que esperança tem o pecador rebel­de quando chega a hora da morte, a hora em que Deus tira a sua vida?

9 - Por acaso Deus atenderá os pedidos de ajuda que o perverso fizer na hora do sofrimento?

10 - Não, porque o perverso não ama ao Deus Todo-poderoso e quando tudo vai bem não há lugar para Deus em sua vida.

11 - Eu vou lhes ensinar quais são os planos de Deus, quais são as realidades sobre o Deus Todo-poderoso.

12 - Vocês já conhecem essas realidades mas apesar disso continuam falando tolices, idéias completamente erradas.

13 - Eis o que Deus preparou como cas­tigo para o perverso e para aqueles que maltrataram o seu semelhante:

14 - Se eles tiverem grandes famílias, seus filhos mor­rerão na guerra ou de fome.

15 - Quem es­capar da guerra e da fome morrerá de peste, e ninguém chorará a morte dos fi­lhos do perverso, nem mesmo suas espo­sas.

16 - O perverso pode ajuntar dinheiro como pó e encher vários armários com as melhores roupas,

17 - mas quem vai gastar o dinheiro e usar as roupas são os justos!

18 - A casa que o perverso construir será fraca como uma teia de aranha; será fácil de destruir, como uma palhoça qualquer construída às pressas pelos lavradores no campo.

19 - Quando vai dormir ele é rico e po­deroso; quando acorda, descobre que to­da a sua fortuna desapareceu.

20 - Como uma inundação, o medo toma conta de sua alma; à noite, ele é levado embora pe­la tempestade.

21 - O vento forte, vindo do leste, leva o perverso embora para sem­pre, para a eternidade.

22 - Deus manda es­se castigo sobre os perversos e nenhum deles pode escapar, mesmo que tente fu­gir a qualquer preço.

23 - Quando o perver­so cai morto, todos batem palmas; quan­do ele parte para a eternidade, recebe uma grande vaia dos justos.

 


CAPITULO 28

1 - O HOMEM DESCOBRIU as valio­sas minas de prata e de ouro, que de­pois são purificadas com fogo.

2 - Também descobriu como tirar do fundo da terra o ferro; descobriu que poderia conseguir cobre jogando certas pedras no fogo.

3 - Aprendeu a iluminar as minas e a cavar bem fundo para descobrir pedras precio­sas escondidas na terra.

4 - Longe das cida­des, os homens cavam grandes buracos e descem às profundezas da terra, escondi­dos e esquecidos de todas as outras pes­soas.

5 - Enquanto na superfície uns conse­guem pão plantando sementes, outros fi­cam ricos cavando o subsolo, à luz das to­chas.

6 - Entre pedras sem valor o homem en­contra safiras e ouro em pó, misturado com a poeira comum.

7 - Esses tesouros nunca foram vistos pela águia, nem pelo olhar agudo do falcão.

8 - Nas minas pro­fundas nenhum leão ou fera selvagem ja­mais pisou! 9 - O homem, porém, ataca montes enormes com pás e picaretas e acaba virando as montanhas pelo avesso, da base ao pico.

10 - Em plena rocha ele abre valas e descobre preciosos tesouros.

11 - Impede que a água da chuva entre nas minas e de lá trazem tesouros escondidos há muito tempo.

12 - Apesar de tudo isso, o homem não sabe onde encontrar a sabedoria e a ver­dadeira compreensão da vida.

13 - O ho­mem não conhece o valor da sabedoria; por isso é impossível encontrar um ho­mem verdadeiramente sábio.

14 - As profundezas dos oceanos dizem: A sabedoria não está aqui; as ondas do mar dizem: Conosco ela também não está.

15 - Ninguém pode comprar a sabedoria com prata ou ouro, mesmo o ouro mais fino.

16 - O famoso ouro de Ofir não chega para comprar a sabedoria; ela é mais pre­ciosa que pedras de ônix e safira.

17 - Nem o ouro, e nem o cristal, nem as mais belas jóias podem ser comparados à sabedoria.

18 - Quem tem sabedoria não dá importân­cia ao coral, ao cristal ou mesmo às péro­las.

19 - O topázio da Etiópia, pedra tão preciosa, não chega para comprar a sabe­doria; o ouro mais puro também não se compara a ela.

20 - Onde está a sabedoria, afinal? Co­mo poderemos consegui-la? Como conse­guir uma boa compreensão da vida?

21 - Es­sas coisas não podem ser descobertas pe­los homens; mesmo os olhos agudos das águias não conseguiriam descobrir onde está a sabedoria.

22 - A Morte e o reino dos mortos, no entanto, dizem: Já ouvimos falar da sa­bedoria e do grande valor que ela tem.

23 - Deus é que conhece a sabedoria! Ele sa­be onde encontrar a verdadeira com­preensão da vida,

24 - pois seus olhos vêem tudo que acontece nos céus e na terra.

25 - Quando Ele calculou a força dos ventos e marcou limites para os mares,

26 - quando fez leis para controlar a chuva e traçou o caminho dos relâmpagos,

27 - Deus possuía a sabedoria e nos deixou boas provas dis­so. Ele estabeleceu a sabedoria e sabe tu­do sobre ela.

28 – E este é o conselho que Ele dá a todos os homens: Amar e obedecer a Deus é a verdadeira sabedoria; o homem que se afasta do pecado tem boa compreensão do sentido da vida.

 

CAPITULO 29

1 - E JÓ CONTINUOU sua defesa:

2 - Ah, que saudade do meu passado, do tempo em que Deus me protegia!

3 - Que saudade do tempo em que Deus, com a sua luz, iluminava o meu caminho e eu andava em segurança em meio às tre­vas!

4 - Que saudade do tempo em que eu era forte e cheio de saúde, quando Deus era meu amigo e abençoava minha família!

5 - Quem me dera voltar ao tempo em que Deus estava do meu lado e eu ti­nha a companhia alegre de meus filhos,

6 - o tempo em que meu caminho era feito só de sucesso, o tempo em que eu era ca­paz de conseguir azeite de uma pedreira!

7 - Naquele tempo eu tinha um lugar re­servado entre os cidadãos influentes e dig­nos de respeito.

8 - Quando os jovens me viam chegando, levantavam-se e abriam caminho; os velhos ficavam em pé, em si­nal de respeito.

9 - Até as autoridades dei­xavam de lado os assuntos importantes e se calavam quando eu chegava.

10 - Ho­mens ricos e importantes paravam de fa­lar sobre negócios para me escutar.

11 - Mi­nhas palavras eram a alegria da cidade e todos me conheciam como um homem honesto e justo.

12 - Eu ajudava os pobres que estavam sendo explorados e os órfãos que não ti­nham ninguém para lhes dar abrigo.

13 - Ajudava os que estavam às portas da morte e eles me abençoavam; eu ajudei muitas viúvas a ficarem alegres novamen­te.

14 - Em todas as minhas ações eu procu­rava ser justo; fiz da justiça a minha rou­pa de todo dia.

15 - Eu servi de vista para os cegos e de perna para os aleijados.

16 - Fui um pai para pobres e necessitados e até aos estranhos eu protegi e julguei com justiça.

17 - Eu quebrei os dentes afiados dos perversos e tirei as pobres vítimas da boca dos exploradores desonestos.

18 - Então, eu pensava: 'Minha morte chegará tranqüilamente, em casa, depois de uma vida longa e bem vivida.

19 - Serei como uma árvore de raízes longas, que chegam até o rio; o orvalho cairá sobre mim e meus ramos serão sempre verdes.

20 - Receberei muitas honras e a minha for­ça será sempre renovada. 21 - Quem me conhecia procurava sempre ouvir meus conselhos e todos se calavam para me es­cutar.

22 - Quando havia alguma dúvida ou­ discussão, eu sempre tinha a última pala­vra pois todos aceitavam minhas opi­niões.

23 - Todos esperavam pelos meus conselhos como, a terra seca espera pela chuva da primavera.

24 - Quando alguém estava triste e desanimado, o meu sorriso lhe devolvia a alegria e a disposição de vi­ver.

25 - Para o meu povo eu era um guia para mostrar o caminho, um rei que co­mandava os exércitos, um chefe que orga­nizava e um amigo para consolar os tristes.